Diálogos Sobre a Pintura na Cidade de Roma
Adaptação de Philippe Arnaud e Christine Laurent de A PINTURA ANTIGA II (DIÁLOGOS EM ROMA) de Francisco de Holanda.
Colaboração de Luis Miguel Cintra no estabelecimento do texto adaptado em português.
Encenação, cenário e figurinos Christine Laurent
Assistente de encenação António Fonseca
Assistente de cenografia Luís Mouro
Montagem Fernando Correia e Alexandre Freitas
Estruturas metálicas Contábuas
Guarda-roupa Emília Lima e Les Ateliers du Costume
Costureiras Aline Sêco, Piedade Duarte e Teresa Cavaca
Luzes Acácio de Almeida
Montagem e operação de luzes e som Vítor Ribeiro
Contra-regra Alfredo Martinho
Colaboração para montagem e artes gráficas Cristina Reis
Interpretação
Francisco de Holanda, 20 anos Marco Delgado
Michelangelo Buanarroti, 64 anos Luis Miguel Cintra
Vittoria Colonna, Marquesa de Pescara. Uma musa não tem idade! Luísa Cruz
Lattanzia Tolomei, 51 anos Luís Lima Barreto
Fra Ambrogio Carerina Dominicano, 56 anos António Fonseca
Diega Zapata, 20 anos João Romão
Valerio Belli (Valéria de Vicenza) Gravadar de medalhas, 71 anos José Manuel Mendes
Giulio Clovio (Júlio de Macedónia) Iluminador, 40 anos Almeno Gonçalves
Camillo Gentil-homem, 30 anos Luís Lucas
Gentil-homem romano António Fonseca
Música Dimitri Schostakowitsch, Suite sobre Poemas de Miguel Ângelo (Cólera) Dietrich Fischer-Dieskau (voz), Aribert Reimann (piano). Teldec, 1987.
Lisboa: Teatro do Bairro Alto. Estreia: 02/02/1994
29 representações
Companhia subsidiada pela Secretaria de Estado da Cultura
Apoio da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses
Apoio de CML (Escola de Calceteiros), João Graça, Ana Carvalho, Maria do Carmo Vasconcellos, Fátima Afonso e Faculdade de Belas Artes
Uma viagem ao estrangeiro
Era uma vez um rapaz bem nascido que partiu de Lisboa, sua terra natal. Andou até Roma (onde nos vamos encontrar para quatro conversas). Queria ver, tocar, respirar tudo o que desde a Antiguidade pode ser testemunho da força viva das coisas da arte. Aí encontrará um mestre. O "seu" Miguel Ângelo é uma espécie de atleta animado de uma força telúrica: às vezes, tal como o Vesúvio, sai de dentro dele um pensamento incandescente marcado pela cólera ou atravessado de riso, que por um momento, preenche o espaço da eternidade.
É que estes Diálogos deixam perceber a dúvida, a interrogação solitária do artista. Ao longo da aprendizagem em três sequências, a relação entre o mestre e o aluno vai-se estreitando, tinge-se de afecto. O que parece "moderno" na organização narrativa de Francisco de Holanda é a última sequência (a 4ª) ser de tal modo marcada pela ausência do Outro. Vemos de facto o nosso jovem herói, sozinho, sem protecção. Tem de enfrentar a selva do "mercado da arte" e a arrogância dos seus representantes.
Vemos então Francisco tornar-se num homem adulto que sabe impor ao mundo o seu próprio ponto de vista e a sua orgulhosa singularidade de estrangeiro com paixão. O seu gigante tutelar ter-lhe-á insuflado uma nova força, a força de recusar. E a capacidade de afirmar a sua integridade. Depois deste combate, Francisco estará pronto, aconteça o que acontecer - é essa a profissão de fé que faz em voz alta - para dedicar toda a sua vida e todas as suas forças a dar a conhecer e fazer amar a pintura.
Sob o verbo, sob os enunciados, sob o motivo, ou por vezes surgindo do silêncio, está a marca, o rasto do Outro, aquele que nos dá a energia, o dom. Aquele que gostaríamos de atingir, de compreender. E para isso não chega a vida inteira.
Acredite-se ou não em Deus... nada nos pode impedir de rir ou de chorar. E como teremos podido perceber, sendo toda a arte mais uma questão de estilo que de assunto, façamos por rir das coisas que nos aborrecem. E não deixemos de chorar com as coisas que nos tocam.
Christine Laurent