Dor
de José Meireles
Autoria e encenação José Meireles
Cenografia José Meireles e Pedro Hestnes Ferreira
Orientação gráfica Riu Mantero
Montagem Luís Mouro e Alexandre Freitas
Tratamento de som Emídio Buchinho
Desenho e operação de luz Pedro Marques
Spot televisivo Pedro Sena Nunes
Produção José Meireles, Conceição Ferreira e Teatro da Cornucópia
Interpretação Rogério Silva
Vozes Gravadas (televisão)
Sem abrigo 1 Alfredo Martinho
Entrevistador Luis Miguel Cintra
Sem Abrigo 2 António Fonseca
Sem Abrigo3 e 4 José Meireles
Sem Abrigo 5 Renato Aires
Sem Abrigo 6 Almeno Gonçalves
Vozes Gravadas (rádio)
Executivo Paulo Raposo
Politico da Oposição Luís Assis
Lisboa: Teatro do Bairro Alto. Estreia: 25/06/1996
15 representações
Co-produção José Meireles/Teatro da Cornucópia
Apoio de Ministério da Cultura, Fundação Calouste Gulbenkian e Câmara Municipal de Lisboa (Pelouro da Cultura)
Apoio de CP, Fergráfica, EsterioSom, Imprime, Latina Europa e Rádio Comercial
Ò minha juventude que te foste sem que eu me apercebesse!
Falando claramente e sem parábolas, nós somos as peças do jogo que joga o céu.
Divertem-se connosco no tabuleiro do Ser, e depois voltamos, um a um, para a caixa do Nada, escrevia Omar Khayyam no séc. XII.
Oito séculos depois esta consciência muito clara do que é a existência, o corpo e o tempo, está ainda mais longe de ser a parte integrante das nossas vidas. Um dos autores que mais escreveu sobre os problemas essenciais da humanidade foi Samuel Beckett, e é a ele que dedico esta DOR.
Esta peça escrita a partir do tema: nos favos da dor os homens encontram a sua história, onde o envelhecimento ignorou a folia das andorinhas, é a fabulação de uma vida contada por um velho, muito velho, onde dor e prazer se dissolvem, alegria e tristeza, angustia e felicidade, numa ausência de dicotomia de sentimentos, tendo como resultado a osmose entre tragédia e comédia.
Beckett já o provou: não há nada mais engraçado do que a desgraça.
Numa época em que o tempo se tornou um valor mercantil pela troca directa das vivências do corpo, em que cada um se vende à hora, à semana ou ao mês, a velhice acabou por tornar-se um incómodo social devido à sua quase inevitável improdutividade. Mas é preciso querer quando se pode, porque nada de nosso temos senão o tempo e nem ele nem as estações esperam por ninguém, como nos ensinou Baltasar Gracián. E é esta espécie de hino à vida sob forma metafórica duma representação teatral que gostava de partilhar com os cidadãos meus contemporâneos, porque por mais críticas que possam ser as situações e as circunstâncias, é nas ocasiões em que tudo é temível que nada há a temer, é quando se está rodeado de todos os perigos que não há que temer nenhum, é quando se está sem nenhum recurso que há que contar com todos: há uma vida a ganhar e só a solidariedade entre os homens pode salvar a humanidade.
Prosseguirei!
José Meireles