Máquina Hamlet
de Heiner Müller
Tradução Anabela Mendes
Tradução do HAMLET de W Shakespeare Sophia de Mello Breyner Andresen
Encenação e dramaturgia Luis Miguel Cintra com Cristina Reis
Assistente de encenação e dramaturgia Luís Assis
Espaço cénico, objectos e figurinos Cristina Reis
Assistentes para a cenografia Linda Gomes Teixeira e Luís Miguel Santos
Coordenador técnico Luís Mouro
Montagem Femando Correia com Alexandre Freitas
Montagem eléctrica Pedro Marques
Videos Ricardo Resende
Guarda-roupa Emília Lima
Conservação do guarda-roupa Alice Madeira
Construção de adereços Luís Miguel Santos
Coordenação de produção Cremilde Mourão
Secretária da companhia Amália Barriga
Interpretação
Hamlet Luis Miguel Cintra
Ofélia Rita Loureiro
Horácio Luís Lucas ou Nicolau Lima Antunes
Cláudio António Fonseca ou Luis Lima Barreto
As Quatro Mulheres Mortas Rita Durão, Solange F., Sofia Marques e Tânia Lima Antunes
Vozes Luísa Cruz, Melanie Mederlind e Teresa Sobral
Música: No espectáculo ouvem-se dois trechos de Gyõrgy Ligeti: o 3° andamento (come un meccanismo di precisione) do Quarteto de cordas nº 2 (interpretação do Lasalle Quartet); o 3º andamento (movimento preciso e meccanico) do Concerto de Câmara para 13 instrumentistas (interpretação do Ensemble Intercontemporain, dir.de Pierre Boulez)
Lisboa: Escola Secundária Luís de Camões. Estreia: 12/02/1998
O espectáculo também foi apresentado nas seguintes escolas da zona de Lisboa: Esc. Sec. José Gomes Ferreira, Esc. Sec. Maria Amália Vaz de Carvalho, Esc. Sec. Bramcamp Freire, Esc. Sec. Stº António dos Cavaleiros, Esc. Sec. D. Pedro V, Esc. Sec. Francisco Simões, Esc.Sec. D. Luísa de Gusmão, Esc. Sec. Dr. António Carvalho Figueiredo, Esc. Sec. António Arroio, Esc. Sec. da Damaia, Esc. Sec. Stuart Carvalhais, Esc. Sec. Camilo Castelo Branco, Esc. Sec.D. José I e Esc. Sec. Professor Reynaldo dos Santos.
16 representações
Uma co-produção Festival dos 100 Dias Expo 98/Teatro da Comucópia.
Companhia subsidiada pelo Ministério da Cultura
Apoio do Ministério da Educação (DREL).
MÁQUINA HAMLET de Heiner Müller
Integrado no projecto Teatro do Mundo Teatro do Eu, preparado em co-produção com O Festival dos Cem Dias/ Expo 98 e assinalando os seus 25 anos de actividade, o Teatro da Cornucópia concebeu um espectáculo exclusivamente dedicado a alunos dos últimos anos do ensino secundário e a ser apresentado unicamente em escolas. Trata-se de um espectáculo de caracteristicas muito especiais.
Heiner Muller (1929-1995), autor do texto, é considerado um dos maiores dramaturgos da segunda metade do século. Comunista alemão radicado desde sempre em Berlim Leste, foi um homem profundamente ligado à prática teatral como dramaturgista e encenador. Nos seus últimos anos de vida, depois da reunificação da Alemanha, foi director do Berliner Ensemble. A sua concepção de teatro é política e, nesse aspecto, herda e critica radicalmente as teorias de Bertolt Brecht. Tal como Brecht, quer um teatro inserido na História, capaz de reflectir sobre ela e com capacidade de intervenção na sociedade, ou seja, um teatro didático. Mas não aceita já um conceito de teatro didático que transporte uma doutrina. Numa época em que julga que o "humanismo já só se manifesta como terrorismo" e em que a evolução da actividade teatral faz com que os dramaturgos cada vez menos tenham um verdadeiro destinatário e cada vez menos escrevam peças para o público e cada vez mais para preencher a programação dos teatros, escreve "textos solitários à espera de história". Reclama afinal um novo teatro didático, violento, menos interessado em ensinar que em provocar apren- dizagens contra o esvaziamento de sentido das actividades culturais e da vida social.
MÁQUINA HAMLET é um desses textos escrito em 1977. O texto nasce do cruzamento da leitura do HAMLET de Shakespeare com uma profunda reflexão sobre o mundo contemporâneo. A hesitação de Hamlet - vingar ou não o assassinato do pai - torna-se no ponto de partida de inúmeras interpretações mas a reflexão política é fulcral: "ser ou não ser" é ser ou não ser herdeiro do mundo que nos criou, trair ou não a nossa herança política e cultural, inventar ou não o futuro, esquecer ou não esquecer o passado, inventar uma maneira de viver. O texto é voluntariamente opaco, feito de citações, colagens, associações livres, destruição da sintaxe clássica, imagens violentas e enigmáticas que exigem do espectador ou do leitor leituras pessoais, uma participação como seu intérprete. Essa responsabilização do público, feita agora com uma linguagem teatral em que o inconsciente e a biografia individual passam a ter tanto de político como a análise dos conflitos sociais, devolve a este teatro um carácter brechtiano através de um novo didatismo.
O Teatro da Cornucópia já abordou por diversas vezes o teatro deste autor (duas encenações da peça A MISSÃO e MAUSER), Com esta encenação de MÁQUINA HAMLET, mais do que apresentar um espectáculo no sentido tradicional, pretende confrontar o público escolar, ainda pouco condicionado por hábitos de espectador. para além do convívio diário com a TV, com um texto que é já um clássico do teatro moderno mas que rompe com todas as regras habituais da convenção teatral e que toma como ponto de partida uma questão que deveria ser particularmente sensível para adolescentes: romper ou não com a família, inventar o futuro. Dado que a densidade do texto e as referências que contém exigem de público e actores uma enorme concentração que não parece possível com grandes auditórios escolares, a opção do Teatro da Cornucópia foi partir da própria intimidade das salas de aula e do tipo de relação professor aluno para a encenação do espectáculo. Os alunos serão poucos de cada vez, estarão sentados nas suas carteiras, o quadro preto será usado, a luz é a luz do dia, acrescida de um ou outro efeito eléctrico. Mas algum "material didático" invadirá a sala: personagens, objectos, máquinas, sons e palavras. Um tipo de discurso que é uma nova linguagem poética para o teatro, provocatório, intenso, com lógicas escondidas, capaz de criar ou sugerir uma nova maneira de pensar ou capaz de provocar uma imediata rejeição. Trata-se de correr riscos.
Não será possível a presença em cada espectáculo de mais alunos ou professores do que previsto dado que estarão necessariamente sentados em carteiras e os actores circularão entre eles.
Fala-se da solidão do homem contemporâneo perante o mundo e o seu passado político. Fala-se de família, fala-se dos fantasmas e fala-se também de esperança e de terror, fala-se de mortos e vivos. As referências ao HAMLET de Shakespeare são muitas. O espectáculo da Cornucópia recupera e integra alguns dos mais famosos trechos da peça na tradução de Sophia de Mello Breyner Andresen que insere no texto de Müller. E como as referências culturais do texto serão muitas vezes alheias ao público, ainda que fundamentais para quem criou o texto e para quem concebeu o espectáculo, o espectáculo terá três partes:
1. Uma conversa prévia com os alunos capaz de lançar algumas pistas de leitura.
2. Representação de MÁQUINA HAMLET (50 minutos)
3. Conversa final sobre o espectáculo.
Calculamos a duração total da intervenção junto dos alunos em 2 horas.
Müller é um autor que tem já sido muito representado em Portugal. Já foram representadas por companhias portuguesas: A MISSÃO, HORÁCIO, FILOCTETES, MATERIAL MEDEIA, OUARTETO, MAUSER, MÁQUINA HAMLET e GERMANIA 3. Esta temporada o Berliner Ensemble já apresentou em Lisboa uma encenação de H. Müller de ASCENÇÃO E QUEDA DE ARTURO UI de Bertolt Brecht e outra de QUARTETO.
Máguina Hamlet é um texto que tem despertado o interesse de jovens criadores: António Lago, Rodolfo Garcia Vasques, João Paulo Seara Cardoso.
Mas o espectáculo que a Cornucópia agora apresenta é também um confronto de gerações. É um espectáculo de pessoas para quem a História Portuguesa começa antes do 25 de Abril de 1974 para pessoas que já não conheceram os dias de 74 e 75 nem a ditadura portuguesa. É também o testemunho de um ponto de vista necessariamente datado perante novas gerações.
Teatro da Cornucópia